terça-feira, 15 de março de 2011

A história da Milla



Há 9 anos minha cachorra trabalha com TAA e percebi que nunca contei a sua história.
Em meados de 2001 recebi um telefonema de uma mulher que tinha tido referências do meu trabalho de socialização, comportamento canino e adestramento. Marcamos uma consulta para conversarmos sobre sua filhote de golden. Chegando lá, apareceu a mulher com uma goldenzinha de mais ou menos 8 meses. No início da conversa a mulher me contou que amava muito essa cachorrinha, contou que já havia contratado um adestrador e percebendo o comportamento estranho da cachorra, resolveu segui-lo. Assim, descobriu que o adestrador amarrava vários cães nos postes e ia adestrando um por um fazendo com que os cães ficassem sentados em média 2 horas presos sem água e sem sombra para descansarem.
Perguntei quantas pessoas moravam na casa, e ela me disse que moravam ela, o marido e sua filha de 8 anos. Fizemos o acerto habitual e comecei a socialização da cachorra. Depois de um mês que estava com a Milla. Fui chamada para uma conversa.
A dona da Milla contou que estava com câncer e que o tratamento não estava adiantando. Ela pediu que o meu trabalho fosse não só com a Milla, mas também com sua filha, para que fizesse uma aproximação maior entre as duas e assim a Milla seria um suporte emocional quando ela morresse. Lembro que nessa época a Milla ficava o tempo todo sentada ao lado da dona enquanto ela assistia TV, até que um médico achou que era “maléfico” para o tratamento ter um animal por perto e desde então Milla passou a viver na área de serviço.

O tempo foi passando e eu, Milla e a criança passeávamos e brincávamos enquanto ela era treinada para trabalhar no asilo Vivência Feliz.
No dia do enterro, eu a Milla e a filha fomos brincar no parque do Ibirapuera e depois fomos à Dogwalker brincar com outros cães.
Encerrada essa etapa, começou uma outra. O dono da Milla. Um cachorro era meio indiferente para ele. E para piorar, um dia a Milla estava na sala do apartamento e o portão para a área de serviço estava fechado impossibilitando-a de ir até o jornal para fazer xixi. Não agüentando mais, ela fez no tapete e foi fortemente repreendida. Como a Milla sempre foi uma cachorra muito dócil e obediente, ela achou que não era para fazer suas necessidades dentro do apartamento e NUNCA mais fez.
Eu tinha muita dó dela, pois por incrível que pareça, nos finais de semana ela fazia um xixi no sábado de manhã e outro no domingo. Aliás, teve vezes que ela fazia na sexta quando eu a entregava e só ia fazer na segunda quando eu a pegava.
Fiquei uns 9 meses pegando a Milla às 5h30 da manhã, horário que o dono acordava e entregando às 17h horário que a empregada ia embora.
Até que um dia depois de muita insistência resolveram finalmente me dar a cachorra.
Acho que foi um dos dias mais felizes da minha vida. A Milla depois de 2 anos e meio de convivência seria totalmente minha. Ela iria poder fazer xixi a hora que bem entendesse. Ela poderia dormir na minha cama se quisesse...
Quem conhece a Milla sabe que ela é muito especial. Ela é a cachorra que sabe fazer conta, ela é a cachorra que deixa autistas baterem nela, ela é a cachorra que, todas as vezes, para entrar dentro de casa, senta e espera eu dizer que pode entrar. Mas ela não precisava ser tudo isso, ela só precisava ser A MINHA CACHORRA.

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